sábado, 25 de fevereiro de 2012

O idealista


Já era muito tarde, e um vento gelado soprava de nordeste. Tudo era rocha e grama dos dois lados do caminho, e até mesmo a relva parecia estar seca e cinza de medo do sangue. Mas não tu. Tu caminhavas para a morte como um adolescente caminha para a amada. Andavas na direção do próprio destino, que sabias não ser bom, como se o desejasses, como se aquela fosse a morte com a qual sonhastes por toda a tua vida. É pouco provável, mas talvez tu nunca tivesses sonhado com a morte. Ou então sonhastes com uma morte tranqüila, quando as tuas faces estivessem enrugadas de cansaço e teus cabelos esbranquiçados de tempo. Mas o que mais te vejo sonhar é com uma morte rápida e muito dolorosa, na mão daqueles que combateste, porque essa é a morte mais desejada por aqueles que defendem um ideal com o próprio sangue.

Tu, que estiveste tão presente em tantos momentos da nossa história, não poderias morrer diferentemente dessa vez. Em todas as tuas outras aparições, morreste na glória, banhado pelo teu próprio sangue, que caía em bicas pelo bem do teu povo. Morreste em Esparta e em Paris por daquilo em que acreditavas. Morreste no Haiti e morreste na Somália, e ainda morres, diariamente, em tantos lugares que é impossível contar. Teu sangue redime os pecados daqueles que não merecem tê-los redimidos; tua cabeça é por eles exposta em praça pública e teu corpo esquartejado visita as casas daqueles que tanto acreditaram em ti, para que estes percam a esperança e jamais lutem novamente. Mas tua chama está sempre acesa, e tua luz sobrepõe todas as outras, indo juntar-se às das estrelas mais brilhantes e mais jovens do Universo.

Embora cansado, ainda caminhas. Teus passos ecoam nos ouvidos do mundo e deixam rastros impossíveis de serem apagados ou escondidos. Tua espada deixa um barulho metálico de choque com as pedras por onde passa, mas teus próprios ouvidos não conseguem distinguir tal som; muito menos teu olfato distingue o cheiro de flor que o vento traz. Tudo em ti é morte. Tu és a morte. Teus olhos refletem o horror e a delícia de morrer nas mãos dos inimigos pelos teus ideais; teu nariz só sente o cheiro do teu sangue, que ainda há de ser derramado; tua boca sente o gosto agridoce da vitória derrotada; tua pele percebe o toque leve do vento a brincar com esse minuto de tensão extrema, no qual te recordas de ti.

Não te apresses; ainda há tempo até que desça sobre ti o peso do fim da existência. Aproveita esses momentos para recordar-te da tua vida, do tempo que passaste discursando aos que não entenderiam de outra forma, dos dias inteiros que perdeste premeditando seus passos, a fim de não cair nessa arapuca a qual daria fim à tua vida. Mas o destino é um amigo cruel; ele não perdoa dívidas e não dá o braço a torcer. O maior erro na tua vida foi ter contraído dívida com o destino. Se não o tivesses feito, talvez agora estivesses livre para fazer o que quisesses. É fácil entender, todavia, porque tua vida é tão diferente. Isso não é obra do destino. Foi pura e simplesmente tua escolha cair da corda bamba em que te equilibravas debilmente. Andaste para esta morte, com tuas próprias pernas, e com nada menos que teu sangue pagarás por essa escolha.

Teu semblante cansado é parcamente iluminado pela lua, e o mundo sente dó de ti. Mesmo aqueles que te condenaram agora viram o rosto, tentando se mostrar simpáticos à tua dor. Mas só tu mesmo sabes o que é estar defronte a todos contra os quais tanto lutara, pronto para morrer pelas mãos deles. Só tu sabes o quanto dói ter a vida tolhida em favor de idéias... Só tu sabes, e só agora descobristes, que não vale a pena viver de idéias. Idéias mudam, idéias acabam. São perecíveis. Tu também és perecível, mas tens o direito de escolher como viverás tua existência perecível; as idéias todas vivem do mesmo modo: parasitas de pessoas como tu, que vivem delas.

Teus joelhos tocam o chão, e aqueles que te condenaram agora têm o rosto transfigurado. Se antes teu semblante era, para eles, digno de pena, agora é nada mais que uma ameaça, algo que deve ser eliminado antes que dê frutos. Tuas vistas estão turvas, e não vês nada além de morte. Se antes eras a morte, agora a morte é em ti. Crave tua espada no chão pedregoso mais uma vez! Grite aos céus que te salvem a alma, que teu corpo é o que menos importa! Mas tu não fazes nada disto, porque não é necessário. Não queres que te salvem a alma, muito menos o corpo. Basta que salvem tua mente, teus conhecimentos, e repousarás em paz. Basta que não deixem que te arrependas...

O carrasco conduz-te à morte, e tu te levantas para recebê-la com bravura. Não há nada digno de piedade em tuas feições, mas sim, de orgulho; deixaste a vida em prol das tuas idéias, com a esperança de que, um dia, estas se cruzassem com outras e se reproduzissem, e, assim, suas netas pudessem alcançar o que as avós não conseguiram.

(nath)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Preço



O sol já se punha quando cheguei em casa, aflito, com um sentimento medíocre de auto piedade e agonia dentro de mim, a minha frente estava a sala de estar com a mesa de vidro, o sofá e as poltronas mais o raque onde ficava a televisão,onde deixei minha mochila, seguindo para direita pelo corredor que dava no meu quarto, as paredes escureceram como se algo roubasse a luz do apartamento, não notei de imediato a mudança no ambiente, mas era de se esperar, meu andar se tornou mais lento e logo o corredor foi tomado por completo pelas sombras, continuei indiferente a escuridão ao meu redor, o chão transmutara-se em pedra junto com as paredes, me vi em uma espécie de caverna apertada, escura e quente, avancei andando calmamente, as paredes se transformavam conforme eu prosseguia por aquele caminho, um caminho familiar, uma trilha a qual eu já trilhara antes, os muros agora estavam infestados com cadáveres.  Os mortos vivos gemiam, pregados nas laterais do corredor com seus membros balançando, braços e pernas e mãos que se mexiam incessantemente, tentavam me alcançar, puxavam meu cabelo e arranhavam meus braços e gritavam para mim “FRACASSADO! FRACASSADO! TOLO! TOLO! GAROTO IDIOTA! VOCÊ A PERDEU! FRACASSADO!”. Um zumbido irritante, uma canção demoníaca e mal arranjada, mas que aos meus ouvidos nada significava.
Naquele dia usava os meus velhos coturnos pretos já gastos, uma calça jeans surrada não muito nova e a celebre camiseta do Pink Floyd que sempre foi e será um de meus tesouros. O corredor findava em um salão com o piso feito de ossos velhos carbonizados, era todo fechado, tendo apenas o corredor como entrada e saída, as paredes eram feitas de pedras em brasa, a única fonte de luz do recinto, no centro estava ele em seu trono, uma grande cadeira de pedra maciça que emergia da pilha de ossos, trajava um terno fino, preto com listras cinzas, a pele era rosada com as extremidades  avermelhadas, tinha os cabelos curtos e negros, da testa subiam dois longos cornos e entre eles pairava uma auréola de fogo. Fui ao seu encontro, meu rosto sem expressão e fechado divertia-o, levantou-se de seu trono cinzento e me recebeu com um sorriso malicioso.
- E então? Teve o que queria? - A questão imposta tinha tom de brincadeira.
- Não foi justo, não era para terminar assim. – Seco e sem emoção.
- Nunca disse que seria, agora pague o que me deve. O que você esperava? Achou mesmo que seria ela? Garoto tolo! – “Garoto”, a palavra era como navalha cortando meus pulsos. – Dei a você o que me pediu, não tenho culpa de suas escolhas. Vendeu-me a alma por ela, deu à ela teu coração e agora tens a mente mutilada pelas lembranças, achou-se homem feito quando não passa de uma criança que não sabe o que quer! Tolo, garoto tolo. – Mais uma vez, como uma lamina a cortar-me a carne. – A divida, vamos logo.
- Era uma armadilha e eu sabia, mas ...
- Mas o que? Foi sua própria luxuria quem o enganou, ou vai me dizer que foi por..
- Amor! Sim, foi.
- Amor? Ra! O amor, então és mais tolo do que imaginara.
Do chão de ossos uma chama fraca emergiu, formando um espelho de fogo, nele eu via entre as chamas o rosto dela, um rosto delicado de bochechas macias e lábios carnudos, apertados e vermelhos, o olhos escuros eram como perolas negras e os cabelos não passavam dos ombros, linda como sempre foi, linda como eu sempre me lembrarei, carregava lagrimas nos olhos e um sorriso tristonho, não me atrevia a dizer que era por mim a quem chorava, mas aquela visão despertou em mim a raiva que se acumulava. Fui deixado, mais uma vez, abandonado nas sombras e agora mais que nunca me culpava por tudo, minhas mãos se fecharam espremendo meus dedos naquele impulso de ódio.
- O que esta esperando? Colete logo o que veio buscar e me deixe em paz demônio maldito
Ele guinchou de alegria, sua risada ecoara por todo o salão, levantou a mão fumegante babando labaredas dos dedos e tocou meu peito, puxando minha alma, de repente todo o cenário escureceu e acordei de súbito em meu quarto, suava frio, a visão demorou a se acostumar com as paredes brancas, senti o peso de meu corpo cair na cama, depois de alguns segundos procurei em meu peito onde o demônio arrancara de mim a alma e percebi que havia algo errado, algo que faltava, o coração não batia, tentei falar, mas a voz não saiu, tentei me levantar, mas as pernas não obedeciam. Então a voz dela veio como um sussurro em minha mente, doce e carinhosa com um toque de sensualidade:
“Adeus meu querido príncipe.”
E assim meus olhos se fecharam e uma parte de mim morrera naquele dia.

(Allarious)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Apresentando-se


Olá a todos. Bem vindos ao primeiro post do blog Café Rabiscado. Usaremos esse espaço para nos apresentarmos. Somos uma equipe de seis pessoas, autores e desenhistas. Publicaremos contos dos mais variados estilos: Romances, tragédias, terror, comédias, aventuras...o que der na telha e na criatividade de cada um.
Falando um pouco de mim agora, atendo pelo nome de Dan. Sempre tive paixão por leitura. Acredito na capacidade de um livro mudar uma pessoa. Minhas histórias favoritas sempre foram aventuras puxadas para um romance, mas como contador de histórias eu sempre tive um forte com histórias de terror. Nunca mostrei nenhum material escrito para alguém, mas sempre contei diversas histórias que vivi e ouvi para amigos, e foram horas bem agradáveis. Espero conseguir compartilhar contos divertidos pela internet. Um abraço!
( Dan )


Oeee!!! Baum?!!
            Olá caro ser humano que visita este singelo blog, seja bem vindo!

Tendo em vista que somos um grupo de amigos que se juntou por uma simples necessidade de ocupar o tempo livre com algo que de gosto comum a todos, veio a idéia deste blog, então o nome, e suas devidas divisões perante os membros colaboradores do mesmo.
Sendo assim, me apresento a vocês, leitores, expectadores e amantes da arte, seja ela escrita, cantada ou mesmo desenhada e pintada. O que começamos aqui é um projeto, um projeto e suas possibilidades, um espaço onde pessoas com sede de algo, talvez não exatamente novo, mas diferente, uma forma de entretenimento que sirva para relaxar seu dia, sua noite ou sua madrugada, tirar o peso de sua consciência, deixar de lado por alguns instantes os problemas mundanos e flutuar conosco em mar de café, letras e rabiscos. E não há problemas se você talvez não goste tanto do café, este foi escolhido como alegoria para mantê-los acordados, para climatizar o ambiente na forma de uma manhã alegre e fora do comum ou de uma noite que mereça um toque especial, assim como uma madrugada que precisa de mais energia. Pensamentos diferentes geram idéias diferentes que geram experiências diferentes e logo entramos em uma corrente que se fortalece a cada elo forjado por mentes pensantes indiferentes aos preconceitos e censuras impostos por uma sociedade que talvez ainda não se abriu completamente para consumir esse tipo de conhecimento.Sente-se, deleite-se, respire fundo e deixe o peso do seu dia no chão um pouco, tome um pouco do nosso café, e divirta-se com os rabiscos feitos por essas crianças arruaceiras que estão a brincar de poetas. Sinta o gosto do mistério, da luxuria, do amor e raiva e da fúria, da preguiça, sonhe conosco em nossas historias. Historias contadas não só em letras, mas em riscos e tinta e cores, em formas e contextos. Obrigado por seu tempo, espero ter feito você sorrir por alguns segundos e se esquecer do cotidiano rotineiro que todos somos obrigados a seguir. Ah sim, quase que me esqueço, sou Allarious, estarei disponibilizando contos, poesias, crônicas e desenhos também, divirtam-se.
            ( Allarious )


Oi, meu nome é Rodrigo... quer dizer.... Chibiko... sabe aqueles caras que você só conhece pelo apelido e mesmo que tenha tido muitas aventuras com ele você ainda não sabe qual é o verdadeiro nome dele? É... sou eu! Oi gente que gosta de ler a toa!
Estou escrevendo isto pra explicar a minha atual função no Café e sobre o efeito do mesmo (adooooro café!). Bom, vou ficar de revisor geral (vou dar uma olhada pra ver se esse povo ta matando os portuga tudo!), vou tentar divulgar o blog sempre que puder e se a inspiração baixar em mim eu escrevo alguma coisa pra vocês morrerem de vergonha de mim, ok? (humor ruim da nisso né? rsrs).
Abraço, bandipanda! =*
( Chibiko )


Eu não consigo entender as pessoas. O jeito com que elas cobram umas das outras comportamentos e reações que simplesmente não fazem sentido. A coragem que elas têm de impor a todos os outros - e, automaticamente, a si mesmas - um jeito de ser, de falar, de se vestir. O orgulho que elas têm de dizer que acreditam que todo mundo é igual enquanto não conseguem olhar para duas meninas andando de mãos dadas na rua. Mesmo eu não entendendo as pessoas, elas teimam em querer me falar que eu tenho que ser como elas; mas não dá. Eu não sou assim.
Eu acho que a vida tinha que ser muito mais simples do que é na verdade, e é por isso que eu não entendo as pessoas por completo, mas entendo o lado ruim delas: porque a parte ruim é sempre simples de entender. O ódio é simples. A raiva é simples. O amor, por outro lado, é peculiarmente complicado. E porque eu acho o ruim mais bonito, simplesmente porque é simples, as pessoas acham que eu sou estranha. Eles nem tentam entender minha estranheza: se contentam em ficar longe. Pois é, pessoas, eu tenho uma coisa chocante para dizer: eu sou igual a vocês. Acontece que também sou um pouquinho diferente.
( nath )
Desista.
Sério. É melhor: desista.
Como é uma apresentação, eu me apresentaria como um homem de lata que logo de cara já percebeu que não precisa de um coração. E escrevo como se as vezes eu me esquecesse disso...
Um beijo.
( Alan )